As Alegadas Mensagens Copiadas de Chico Xavier por Divaldo Pereira Franco

Este artigo busca resgatar a acusação de plágio em certas mensagens psicografadas que o próprio Chico Xavier e determinados grupos de espíritas fizeram contra Divaldo Pereira Franco em determinado período de sua vida. Aqui são reveladas algumas dessas mensagens. A acusação de Chico se encontra numa carta, da qual o espírita Luciano dos Anjos informa em seu livro “A Anti-História das Mensagens Co-Piadas” existirem hoje cerca de 500 cópias.

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Eis como Luciano dos Anjos informa o episódio:

O prenúncio da crise está na distribuição gratuita, naquele fatídico 1962 (abril de 1962), de um folheto de 12 páginas, muito mal confeccionado, anônimo (“um grupo de adeptos da Doutrina Espírita”), intitulado Para Onde Vamos, Espíritas?, cotejando mensagens recebidas pelo médium baiano Divaldo Pereira Franco com as do médium mineiro Francisco Cândido Xavier. O objetivo é lançar sobre o texto de Divaldo a grave dúvida da credulidade. Partindo daí, o Grupo Espírita Emmanuel, sediado na cidade de Garça, SP, elaborou, em 31 de maio de 1962, uma crítica maior a que deu o nome de Estudo de Mensagens Copiadas, da qual imprimiu trinta mil exemplares, lançados em junho daquele mesmo ano e também distribuídos gratuitamente. Foram pelo menos mais corajosos, não repetindo o anonimato covarde dos alcoviteiros. Num texto modorrento de 16 páginas e após 21 considerandos, pretende provar que a mensagem “Carta do Além”, assinada pelo espírito Antero e recebida psicofonicamente pelo Divaldo, em 19.6.61, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, BA, e estampada no Reformador de maio de 1962, p. 111, era um plágio da mensagem “Carta a meu filho”, assinada por J. e recebida psicofonicamente pelo Chico, em 22.4.59, no Centro Espírita Casa do Cinza, em Uberaba, MG, inserida na pp. 62 a 66 do livro O Espírito da Verdade, da FEB, coletânea de vinte autores manifestados através do Chico e do Waldo e lançado em 1962. Essa página já havia sido publicada em primeira mão no jornal A Flama Espírita, semanário de Uberaba, MG, edição de 2.5.59. O opúsculo desacredita também a mensagem “Ama ajudando”, de Joanna de Ângelis, recebida pelo Divaldo em 5.3.60, em Salvador, BA, distribuída avulsamente em Ponta Grossa, PR, em 1961, que seria mera cópia da mensagem “Trabalha servindo”, do espírito Emmanuel, ditada ao Chico em 26.6.59 e inserida na p. 104 do livro Religião dos Espíritos, edição da FEB, lançado em 1960. O enjeu era catastrófico e, na seqüência daquelas terríveis suspeições, tudo poderia doravante acontecer em termos de credibilidade e segurança. Apesar de partir das suspeitas levantadas pelo folheto anônimo Para onde Vamos, Espíritas?, o opúsculo de Garça, Estudos de Mensagens Copiadas, de certa forma descarta todas as mensagens naquele cotejadas (refere-as simplesmente) e abre espaço com destaque somente para as duas referidas acima, que por sua vez não constam do outro. Cita – apenas cita – as cinco do folheto e acrescenta por conta própria (também não reproduzidas) mais seis, porém sem fazer nenhuma análise, senão em relação a alguns trechos de duas dessas seis.  

(…) 

Tão logo apareceu o opúsculo de Garça, o Joaquim Alves (mais conhecido pelo hipocorístico Jô e que – consigno aqui – reconheci sempre como o homem de bem) consultou o Chico sobre o grave assunto, amigo que era dos dois médiuns. É quando surge a estranha carta, de autoria do zeloso médium mineiro, escrita exatamente no dia 10 de junho de 1962. No último parágrafo, o próprio Chico comunicava já havê-la mostrado “aos amigos que me partilhavam a convivência”. E liberou o Joaquim Alves: “sendo do seu desejo pode mostrá-la aos nossos queridos companheiros daí”. Ele não apenas mostrou, como ainda fez umas cinqüenta cópias (óbvio que não posso precisar o número exato) para pessoas que lhe seriam de confiança, dado que a carta tinha caráter nitidamente particular. Angelical ingenuidade cor-de-rosa…! De pronto elas já estavam multiplicadas e distribuídas para outras muitas pessoas, estimando-se que hoje existem mais de quinhentas cópias espalhadas.  

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Isto posto, oportuna-se afinal a indagação: como pôde sair das mãos de Francisco Cândido Xavier a carta de 10 de junho de 1962? Não que ele fosse um anjo imaculado e incapaz de extravasar suas mágoas, extravagâncias e aborrecimentos. Mas o texto está completamente fora do padrão que contextualizava o relacionamento dele com Divaldo Pereira Franco. Que forças estranhas teriam atuado naquele momento em que colocou o papel na máquina e se lhe disparou o pensamento? 

(…) 

Naquele junho de 1962 é bem provável que tenha sofrido alguma insinuação provocativa de gente encarnada da sua total intimidade e confiança.

O programa Fantástico, da Rede Globo, datado de 29/02/2004, reproduziu trechos da carta:

“Há muito tempo que diversas mensagens recebidas por mim vinham na imprensa espírita desfiguradas ou, às vezes, plenamente copiadas, como tendo sido recebidas por ele”, escreveu Chico Xavier. 

O médium mais respeitado do Brasil finaliza assinando apenas Chico e, a mão, escreveu: “Peço reserva sobre esta carta, que deve ser lida somente para os que possam compreendê-la com espírito de compreensão fraterna.”

Seria interessante saber o que o próprio Divaldo conta acerca do episódio.

“Esta semana, Divaldo Franco falou sobre as denúncias. Ele nega a acusação de plágio e diz que o que houve foi coincidência. 

“O espiritismo explica que uma mensagem tem valor quando ela é recebida por diversos médiuns sem que eles tenham contato uns com os outros. Isso se chama ‘universalidade do ensinamento’. E eu psicografei essas mensagens sem nunca haver copiado ou me louvado em qualquer uma delas. À época, eu lia as mensagens do Chico Xavier como todo os brasileiros espíritas. Líamos com muito ardor, com muito interesse. Era natural, pois ele era o nosso líder. Se houve realmente qualquer manifestação de identidade, deve ter sido ou traição do inconsciente ou um fenômeno de corroboração”, explicou-se Franco.”

Fonte: http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL692876-15605,00.html

Luciano dos Anjos discorda das próprias explicações de Divaldo. Consideremos cada uma delas, separadamente:

a) A Universalidade do Ensino

“Descarto, de pronto, a explicação, por insuficiente, da chamada universalidade do ensino, apoiada na concordância das mensagens espíritas, o que lhes daria, segundo o entendimento de Allan Kardec, foro de autenticidade. Poderia até servir para explicar as mensagens iguais que estamos examinando, mas renego a hipótese porque não concordo com esse critério de verdade, para mim inteiramente equivocado e que não foi proposto pelos espíritos. Não foi a multiplicidade de ditados mediúnicos concordantes que levou Kardec à melhor doutrina, ainda que ele assim pensasse. Maioria nunca foi critério de verdade. Se fosse, o catolicismo, por exemplo, seria a religião verdadeira. O Codificador chegou à melhor doutrina mediante a aplicação da sua razão, ao lado da melhor lógica, relativamente aos ditados mediúnicos. Foi o critério de Kardec que considerou o que era concordante ou não, e foi ainda ele quem selecionou o que lhe pareceu ser centro sério e médium sério. O critério, portanto, não foi nem deve ser o da concordância, mas o da razão.”

b) Traição do Inconsciente

“É plausível aceitar Divaldo Pereira Franco, Francisco Cândido Xavier, Yvonne Pereira e outros médiuns de gabarito produzindo mensagens de natureza anímica e não mediúnica? Parece que nesse caso, penso eu, desmoronaria todo o edifício da mediunidade gabaritada, da mediunidade dos missionários, da mediunidade daqueles que reencarnaram para nos ajudar a instruir, amar e evoluir. Animismo existe. Acontece com muitos médiuns. Mas com esses? (…) Ora, sejamos coerentes: não existe a hipótese de animismo em se tratando de Divaldo Pereira Franco. Se houvesse a ameaça de tal acontecer, ele mesmo sentiria de imediato – dada sua experiência, a sua missão, a sua freqüente ligação com espíritos iluminados – que naquele caso não havia ao seu lado nenhum espírito lhe ditando nada, que tudo estava sendo obra exclusivamente sua. Ou, com certeza, se lhe faltasse por absurdo essa percepção, Joanna de Ângelis – de imediato ou logo ao término da falsa psicografia – se incumbiria de dizer-lhe a verdade. 

Ainda uma pequena questão. Vamos insistir em que o Divaldo houvesse lido antes a mensagem e se esqueceu desse ato, tal como admitido acima. Sabemos, por outro lado, que os espíritos se valem de informações e conhecimentos armazenados no cérebro do médium. Não poderia então o espírito ter simplesmente se apropriado assim de toda a história e a colocado no papel através das mãos do médium? Não. Os espíritos recolhem subsídios e não textos integrais, histórias completas com início, meio e fim. Afinal eles se dispõem a ditar o que lhes seja de verdadeira e honesta autoria para assinar como autores. Insisto: estou cogitando de médiuns sérios, missionários, em sintonia com espíritos sérios, às vezes também missionários.

Dito isso, vamos à análise das mensagens. Infelizmente, Luciano não reproduz as mensagens. Consegui, no entanto, com a ajuda de integrantes de uma lista de discussão do Google, a CEPA, o conteúdo de diversas delas. Agradeço a eles por isso.

Coloco também as mensagens que não consegui o par correspondente, para que algum internauta possa completar as lacunas para mim e ajudar na análise das ditas cópias. Vamos, enfim, a elas;

Mensagens de Chico Xavier

Mensagens de Divaldo Franco

Comentários de Luciano dos Anjos

UM DIA 

Um dia, Sócrates deliberou sair de si mesmo, apresentando alguns aspectos da verdade, e imortalizou-se. 

Um dia, Colombo resolveu empreender a viagem ao Mundo Novo e desvelou o caminho para a América. 

A gloriosa missão de Jesus começou para os homens no dia da Manjedoura. 

O ministério dos Apóstolos foi definitivamente homologado pelos Poderes Divinos no dia de Pentecostes. 

Tudo no Universo começa num dia. 

O bem e o mal, a felicidade e o infortúnio, a alegria e a dor, invocados por nossa alma, guardam o exato momento de início. 

Quando plantamos, sabemos que a produção surgirá certo dia. Se encetamos uma jornada, não ignoramos que, em certo momento, ela terminará. 

Um dia criamos, um dia recolheremos. 

Não olvides, porém, que a semente não germinará sem cuidado, em tua quinta. 

Se deres teu dia à erva ingrata, ela se alastrará, sufocando-te o horto amigo. Se abandonares teus minutos aos vermes daninhos, multiplicar-se-ão eles, indefinidamente, impedindo a colheita. 

Ocupa-te com o dia, de olhos voltados para a eternidade. 

Das resoluções de uma hora podem sobrevir acontecimentos para mil anos. 

Tudo depende de tua atitude na intimidade do tempo. 

Judas era um discípulo fiel a Jesus, mas, um dia, acreditou mais no poder frágil da Terra que na administração do Céu, e traiu a si mesmo. 

Madalena era estranha mulher, possessa de sete demônios; um dia, no entanto, ofereceu-se à virtude e inscreveu seu nome na História, figurando no cânone das almas inesquecíveis. 

O amanhã será o que hoje projetamos. 

Alcançarás o que procuras. 

Serás o que desejas. 

Acorda para a realidade do momento e amontoa bênçãos pelos serviços que prestaste e pelo conhecimento que difundiste em tuas horas. 

O Tempo é o rio da vida cujas águas nos devolvem o que lhe atiramos. 

Enquanto dispões das horas de trabalho, dedica-te às boas obras. 

Se acreditas no bem e a ele atendes, cedo atingirás a messe da felicidade perfeita; mas se agora mofas do dia, entre a indiferença e o sarcasmo, guarda a certeza de que, a seu turno, o dia se rirá de ti. 

ISABEL DE CASTRO 

Livro: Falando à Terra –

pág. 106 – 1951

Editora: FEB

UM DIA 

 

VIANNA DE CARVALHO

 

Reformador – 03/1962

Mensagem sobre a importância de um único dia em nossas vidas. Só o título é igual, tal como devem existir numerosos outros de outros numerosos autores espirituais menos ou mais conhecidos. A única expressão repetida – “um dia” – aparece 5 vezes escrita pela Isabel e 15 vezes pelo Vianna. E apenas a referência a Colombo, descobrindo a América, se repete completa.

QUESTÃO DE ESCOLHA 

Procure um delinqüente e encontrará muitos malfeitores. É necessário, então, que você possua imenso cabedal de amor para renová-los, sem fazer-se criminoso também.  

*

Busque identificar uma falta e achará inúmeras. Chegando a essa situação, é imprescindível que você esteja bastante esclarecido para não acrescentar seus erros aos erros alheios.  

*

Tente situar um espinho e vários virão ao seu encontro. Em face de tal contingência, é necessário que você permaneça eminentemente equilibrado para não ferir-se.  

*

Fixe com demasiada atenção uma pedra da estrada e, em breve, o solo estará empedrado aos seus olhos. Depois disso, você necessitará de muita resistência para não sucumbir às asperezas da jornada.  

*

Aproxime-se do bem, procure-o com decisão e a bondade virá iluminar seu caminho. Somente aí você surgirá perfeitamente armado para vencer na guerra contra a mal. 

ANDRÉ LUIZ 

Livro: Agenda Cristã.

FEB. 1947.

PROBLEMA DE SINTONIA

 

 

MARCO PRISCO

Verdade – 07/1961

Palavras diferentes mas com sentido semelhante, identificando-se nas duas mensagens alguns pontos em comum. Nada de escandaloso.

A PRECE DE CERINTO 

Senhor de infinita bondade. 

No santuário da oração, marco renovador do meu caminho, não Te peço por mim, Espírito endividado, para quem reservaste os tribunais de Tua Excelsa Justiça. 

A Tua compaixão é como se fora o orvalho da esperança em minha noite moral, e isto basta, ao revel pecador que tenho sido. 

Não Te peço, Senhor, pelos que choram. 

Clamo por Teu amor e benefício dos que fazem lágrimas. 

Não Te venho pedir pelos que padecem. 

Suplico-Te a benção para todos aqueles que provocam sofrimento. 

Não Te lembro os fracos da Terra. 

Recordo-Te quantos se julgam poderosos e vencedores. 

Não intercedo pelos que soluçam de fome. 

Rogo-Te amor para os que lhes furtam o pão. 

Senhor Todo-Bondoso!… 

Não Te trago os que sangram de angústia. 

Relaciono diante de Ti os que golpeiam e ferem. 

Não Te peço pelos que sofrem injustiças. 

Rogo-Te pelos empreiteiros do crime. 

Não Te apresento os desprotegidos da sorte. 

Sugiro Teu amparo aos que estendem a aflição e a miséria. 

Não Te imploro mercê para as almas traídas. 

Exorto-Te o socorro para os que tecem os fios envenenados da ingratidão. 

Pai compassivo!… 

Estende as mãos sobre os que vagueiam nas trevas… 

Anula o pensamento insensato. 

Cerra os lábios que induzem à tentação. 

Paralisa os braços que apedrejam. 

Detém os passos daqueles que distribuem a morte… 

Ajuda-nos a todos nós, filhos do erro, porque somente assim, ó Deus piedoso e justo, poderemos edificar o paraíso do bem com todos aqueles que já Te compreendem e obedecem, extinguindo o inferno daqueles  que, como nós, se atiram desprevenidos, aos insanos torvelinhos do mal… 

CERINTO

Do livro: Vozes do Grande Além – 1957

POR ELES

 

 

 

DJALMA MONTENEGRO DE FARIAS

 

A Flama Espírita – 17/03/1962

Nas duas mensagens a idéia está centralizada na prece pelos que causam o sofrimento e não pelos que sofrem, pelo agressor e não pela vítima. A literatura espírita está inundada de mensagens nesse mesmo diapasão recebidas por muitos médiuns.

RESPOSTAS INDIRETAS

 

EMMANUEL

 Reformador – 12/1959

RESPOSTAS INDIRETAS 

Rogavas, ainda ontem, saúde para o corpo alquebrado e constatavas a presença da enfermidade. 

Confiavas, ainda ontem, que o problema moral fôsse suavizado ante o auxílio que aguardavas do Céu, e o defrontas a martirizar o coração. 

Esperavas, ainda ontem, que os óbices desaparecessem do caminho, considerando a nobreza dos teus intentos, e encontras a dificuldade ampliada como a zombar do teu esfórço. 

Oravas, ainda ontem, buscando fôrças e robustez para o trabalho, e despertas com as mesmas fraquezas do dia anterior. 

Solicitavas, ainda ontem, auxílios eficazes para a continuação do labor socorrista, e surpreendes a ausência dos valôres necessários. Deixas-te abater pelo desânimo, acreditando-te esquecido dos favores divinos. 

Sucede, porém, que o Celeste Pai responde aos nossos apelos, não conforme os nossos desejos, mas consoante as nossas necessidades. A tenra plantinha roga altura; mas sem que robusteça o tronco candidata-se à destruição. 

A fonte modesta roga caminho para correr; sem a fôrça da corrente, porém, perde-se, consumida pelo solo. 

É necessário, pois, discernir para entender. Muitas vêzes o bem mais eficaz para o doente ainda é a enfermidade. 

O lavrador atende ao solo com os recursos que conta em si mesmo e na terra. A chuva e o sol são contribuições que a misericórdia celeste lhe dispensará correspondendo ao mérito da sua seara. Mas não se descoroçoa se o excesso da chuva e o calor do sol lhe destróem a sementeira. Refeito da dor retorna ao campo e prossegue resoluto. 

Procura, assim, entender também as respostas indiretas com que o Sublime Amigo nos atende. 

Nem sempre o que nos parece o melhor é realmente o melhor para nós. 

Persevera no trabalho nobre e honroso, atende aos deveres que te competem realizar; e, mesmo que as tuas mãos doloridas e calejadas roguem ungüento que não chega, prossegue esperando, firme e sobranceiro, recordando que o fruto nunca precede à florescência e que esta desponta nos dedos da planta que se dilacera para perpetuar a própria espécie.  

Deixa-te chegar, e, coroado com o suor, o sangue e as lágrimas do teu esfôrço, as flôres da esperança no Céu responderão às tuas ansiedades com os frutos da paz e da felicidade.

*

“Outra, finalmente, caiu em terra boa e produziu frutos, dando algumas sementes cem por uma, outras sessenta e outras trinta”. 

Mateus: capítulo 13º, versículo 8.

*

“O homem que cumpre o seu dever ama a Deus mais do que as criaturas e ama as criaturas mais do que a si mesmo. É a um tempo juiz e escravo em causa própria”. 

Capítulo 17º — Item 7, parágrafo 4. 

JOANNA DE ÂNGELIS 

Orientador – 02/1962

Apenas o título é o mesmo. Referem-se à forma indireta como recebemos a ajuda de Deus e dos espíritos. Afora isso, nada a ver uma mensagem com a outra, exceto quanto ao mesmo título. Contudo, nem a lei terrena considera plágio títulos de filmes, livros, artigos, etc. Em Emmanuel, a certa altura lemos: “Identifica as respostas indiretas do Alto aos teus pedidos e aspirações”. Na Joanna: “Procura, assim, entender também as respostas indiretas com que o Sublime Amigo nos atende.” São as duas colocações mais parecidas. Plágio? Ora, esse será provavelmente o arremate de qualquer texto que aborde aquele tema central.

POR AMOR À CRIANÇA 

Nós que tantas vezes rogamos o socorro da Providência Divina, oremos ao coração da Mulher, suplicando pelos filinhos das outras! Peçamos as seareiras do bem pelas crianças desamparadas, flores humanas atingidas pela ventania do infortúnio, nas promessas do alvorecer!…  

Pelas crianças que foram enjeitadas nos becos de ninguém;  

pelas que vagueiam sem direção, amedrontadas nas trevas noturnas;  

pelas que sugam os próprios dedos, contemplando, por vidraças faustosas, a comida que sobeja desperdiçada;  

pelas que nunca viram a luz da escola;  

pelas que dormem, estremunhadas, na goela escura do esgoto; 

pelas que foram relegadas aos abrigos de lama e se transformam em cobaias de vermes destruidores;  

pelas que a tuberculose espia, assanhada, através dos molambos com que se cobrem;  

pelas que se afligem no tormento da fome e mentalizam o furto do pão;  

pelas que jamais ouviram uma voz que as abençoasse e se acreditam amaldiçoadas pelo destino;  

pelas que foram perfilhadas por falsa ternura e são mantidas nas casas nobres quais pequenas alimárias constantemente batidas pelas varas da injúria; e por aquelas outras que caíram, desorientadas, nas armadilhas do crime e são entregues ao vício e à indiferença, entre os ferros e os castigos do cárcere!  

Mães da Terra, enquanto vos regozijais no amor de vossos filhos, descerrai os braços para os órfãos de mãe!…  

Lembremos o apelo inolvidável do Cristo: “deixai vir a mim os pequeninos”. E recordemos, sobretudo, que se o homem deve edificar as paredes imponentes do mundo porvindouro, só a mulher poderá convertê-lo em alegria da vida e carinho do lar. 

EMMANUEL 

Reformador – 10/1961

SÚPLICA DE NATAL 

 

 

ANÁLIA FRANCO

 

Avulso de Ponta Grossa – 12/1961

Emmanuel se dirige às mães; Anália, a Jesus. Nada concerne uma com a outra, salvo o apelo pelas crianças em várias situações. Tais situações serão sempre catalogadas por qualquer autor que enfoque as carências da infância, pois essas carências são invariavelmente as mesmas crianças enjeitadas, crianças que nunca viram uma escola, crianças doentes. Repito, isso é inevitável quando se enfocam as necessidades das crianças. Veja-se, de cada qual, os dois trechos mais semelhantes (?): “pelas que jamais ouviram uma voz que as abençoasse e se acreditam amaldiçoadas pelo destino” (Emmanuel); “por aqueles cujos ouvidos, impossibilitados de registrarem os sons, se transformaram em labirintos onde as vozes se perdem em trevas silenciosas” (Anália). Plágio? Só nos labirintos e nas vozes dos atarantados.

O SANTUÁRIO SUBLIME 

Noutro tempo, as nações admiravam como maravilhas o Colosso de Rodes, os Jardins Suspensos da Babilônia, o Túmulo de Mausolo, e, hoje, não há quem fuja ao assombro, diante das obras surpreendentes da engenharia moderna, quais sejam a Catedral de Milão, a Torre Eiffel ou os arranha-céus de Nova Iorque. 

Raros estudiosos, no entanto, se recordam dos prodígios do corpo humano, realização paciente da Sabedoria Divina, nos milênios, templo da alma, em temporário aprendizado na Terra. 

Por mais se nos agigante a inteligência, até agora não conseguimos explicar, em toda a sua harmoniosa complexidade, o milagre do cérebro, com o coeficiente de bilhões de células; o aparelho elétrico do sistema nervoso, com os gânglios à maneira de interruptores e células sensíveis por receptores em circuito especializado, com os neurônios sensitivos, motores e intermediários, que ajudam a graduar as impressões necessárias ao progresso da mente encarnada, dando passagem à corrente nervosa, com a velocidade aproximada de setenta metros por segundo; a câmara ocular, onde as imagens viajam, da retina para os recônditos do cérebro, em cuja intimidade se incorporam às telas da memória, como patrimônio inalienável do espírito; o parque da audição, com os seus complicados recursos para o registro dos sons e para fixação deles nos recessos da alma, que seleciona ruídos e palavras, definindo-os e catalogando-os na situação e no conceito que lhes são próprios; o centro da fala; a sede miraculosa do gosto, nas papilas da língua, com um potencial de corpúsculos gustativos que ultrapassa o número de 2.000; as admiráveis revelações do esqueleto ósseo; as fibras musculares; o aparelho digestivo; o tubo intestinal; o motor do coração; a fábrica de sucos do fígado; o vaso de fermentos do pâncreas; o caprichoso sistema sangüíneo, com os seus milhões de vidas microscópicas e com as suas artérias vigorosas, que suportam a pressão de várias atmosferas; o avançado laboratório dos pulmões; o precioso serviço de seleção dos rins; a epiderme com os seus segredos dificilmente abordáveis; os órgãos veneráveis da atividade genésica e os fulcros elétricos e magnéticos das glândulas no sistema endocrínico. 

No corpo humano, temos na Terra o mais sublime dos santuários e uma das super maravilhas da Obra Divina… 

Da cabeça aos pés, sentimos a glória do Supremo Idealizador que, pouco a pouco, no curso incessante dos milênios, organizou para o espírito em crescimento o domicílio de carne em que alma se manifesta. Maravilhosa cidade estruturada com vidas microscópicas quase imensuráveis, por meio dela a mente se desenvolve e purifica, ensaiando-se nas lutas naturais e nos serviços regulares do mundo, para altos encargos nos círculos superiores. 

A bênção de um corpo, ainda que mutilado ou disforme, na Terra, é como preciosa oportunidade de aperfeiçoamento espiritual, o maior de todos os dons que o nosso Planeta pode oferecer. 

Até agora, de modo geral, o homem não tem sabido colaborar na preservação e na sublimação do castelo físico. Enquanto jovem, estraga-lhe as possibilidades, de fora para dentro, desperdiçando-as impensadamente, e, tão logo se vê prejudicado por si mesmo ou prematuramente envelhecido, confia-se à rebelião, destruindo-o de dentro para fora, a golpes mentais de revolta injustificável e desespero inútil. 

Dia surge, porém, no qual o homem reconhece a grandeza do templo vivo em que se demora no mundo e suplica o retorno a ele, como trabalhador faminto de renovação, que necessita de adequado instrumento à conquista do abençoado salário do progresso moral para a suspirada ascensão às Esferas Divinas. 

EMMANUEL 

Livro: Roteiro, – pág 17 – 1952

Editora: FEB

TESOURO 

Alguns trechos da página “Tesouro” (Marco Prisco), apresentada por Divaldo Pereira Franco, em 2-1-60, constante da página 122, de “Reformador”, de junho de 1961.

1.             Delicado aparelho elétrico vibra em teu sistema nervosos, num circuito especializado para que o cérebro atenda às exigências da vida organizada”.

2.             “No teu corpo, tudo manifesta a sabedoria divina que elaborou uma forma perfeita para a residência temporária do espírito no processo evolutivo”.

3.             “Um corpo, mesmo limitado, enfermiço ou anormalizado, é o maior tesouro que Deus oferece a um Espírito devedor”. 

MARCO PRISCO 

Reformador – 06/1961

SEM COMENTÁRIOS

NA SEARA DO BEM 

EMMANUEL 

Avulso de São Paulo – 1957

NA SEARA DO AMOR 

Não gastes o tempo no exame de erros alheios, porque o criminoso responderá pelo tempo usado negativamente. 

Não apontes os espinhos da estrada, demorando-te à distância deles. 

Não argumentes com malfeitores, convencido da própria segurança. Não duvides do poder da oração. 

Não arregimentes adversários para a paz da consciência, porque o ódio é incêndio destruidor.  

Não esperes pela fortuna para o enriquecimento do bem, porque a moeda insignificante aplicada na beneficiência é mais valiosa do que qualquer fortuna morta em cofres invioláveis.  

Não reclames, para a satisfação pessoal, os excessos que podem atender a múltiplas necessidades dos outros.  

Não ajudes sem a contribuição estimulante da alegria.  

Não uses o conhecimento da verdade para exibição vulgar ou para afligir os companheiros.  

Não menosprezes o tesouro dos minutos. A Eternidade é feita de segundos.  

Não reivindiques afetos ou aplausos para a vaidade, mesmo que todos exaltem a excelência do teu labor.  

Não ministres programas ásperos e rígidos sem que possas selar as palavras com a ação bem desenvolvida.  

Não desrespeites o suor alheio, granjeado na luta e na dor.  

Não reclames referências especiais.  

Não exibas, mesmo discretamente, os teus feitos, porque qualquer bom pregão perde o valor quando nasce no interessado.

 

Não exijas a presença dos amigos onde não te levaram os pés.  

Não dês entrada ao mal na residência da tua alma.  

Não abras os ouvidos ao vozerio da maledicência.  

Não valorizes o mal a ponto de duvidar da vitória final e certa 

A Flama Espírita 04/11/1961

SEM COMENTÁRIOS

SEXO E AMOR 

Ignorar o sexo em nossa edificação espiritual seria ignorar-nos. 

Urge, no entanto, situá-lo a serviço do amor, sem que o amor se lhe subordine. 

Imaginemo-los ambos, na esfera da personalidade, como o rio e o dique na largueza da terra. 

O rio fecunda. 

O dique controla. 

O rio espalha forças. 

O dique policia-lhes a expansão. 

No rio, encontramos a Natureza. 

No dique, aprendemos a disciplina. 

Se a corrente ameaça a estabilidade de construções dignas, comparece o dique para canalizá-la proveitosamente, noutro nível. Contudo, se a corrente supera o dique, aparece a destruição, toda vez que a massa líquida se dilate em volume. 

Igualmente, o sexo é a energia criativa, mas o amor necessita estar junto dele, a funcionar por leme seguro.  

Se a simpatia sexual prenuncia a dissolução de obras morais respeitáveis, é imprescindível que o amor lhe norteie os recursos para manifestações mais altas, porquanto, sempre que a atração genésica é mais poderosa que o amor, surgem as crises de longo curso, retardando o progresso e o aperfeiçoamento da alma, quando não lhe embargam os passos na loucura ou na frustração, na enfermidade ou no crime. 

Tanto quanto o dique precisa erguer-se em defensiva constante, no governo das águas, deve guardar-se o amor em permanente vigilância, na frenação do impulso emotivo. 

Fiscaliza, assim, teus próprios desejos. 

Todo pensamento acalentado tende a expressar-se em ação. 

Quase sempre, os que chegam ao além-túmulo sexualmente depravados, depois de longas perturbações renascem no mundo, tolerando moléstias insidiosas, quando não se corporificam em desesperadora condição inversiva, amargando pesadas provas como conseqüências dos excessos delituosos a que se renderam. 

À maneira de doentes difíceis, no leito de contenção, padecem inibições obscuras ou envergam sinais morfológicos em desacordo com as tendências masculinas ou femininas em que ainda estagiam, no elevado tentame de obstar a própria queda em novos desmandos sentimentais. 

Ama, pois, e ama sempre, porque o amor é a essência da própria vida, mas não cogites de ser amado. 

Ama por filhos do coração aqueles de quem, por enquanto, não podes partilhar a convivência mais íntima, aprendendo o puro amor fraterno que Jesus nos legou. 

Mas, se a inquietação sexual te vergasta as horas, não te decidas a aceitar o conselho de irresponsabilidade que te inclina a partir levianamente “ao encontro de um homem” ou “ao encontro de uma mulher”, muitas vezes em perigoso agravo de teus problemas. 

Antes de tudo, procura Deus, na oração, segundo a fé que cultivas, e Deus que criou o sexo em nós, para engrandecimento da criação, na carne e no espírito, ensinar-nos-á como dirigi-lo. 

EMMANUEL 

Livro: Religião dos Espíritos, 1960 

ANTE O SEXO E AMOR 

Alguns trechos da página “Ante o Sexo e o Amor” (Joana de Angelis), apresentada por Divaldo P. Franco, em 1-8 –61, inserta à página 265, de “Reformador” de dezembro de 1961. 

1.             “Se te encontras em tormentos íntimos, açoitado pelo látego dos desejos infrenes, recorda o amor no seu roteiro disciplinante e corrige o desequilíbrio, imolando-o ao dever”.

 

2.             “Os que atravessaram os portais do além-túmulo, vencidos pela lascívia e pelos desvios de função genésica, permanecem doentes em longas e desvairadas perturbações, para renascerem fustigados pela emoção atormentada, transformados em parias sociais. Encontrá-los-ás no caminho das criaturas, envergando roupagens masculinas ou femininas, retidos em invólucros teratogênicos, quais presidiários em cárceres estreitos e disciplinantes, em longos processos de reeducação”.

 

3.             “Ama, portanto, embora não recebas a retribuição”.

“Desenvolve a fraternidade no coração, deixando-a espraiar-se como bênção lenificadora, consoante nos amou Jesus-Cristo, corrigindo a inclinação da mente em relação àqueles com quem não podes privar da intimidade, libertando o espírito e enriquecendo os sentimentos”. 

4.             “Procura, antes de novos débitos, o amantíssimo coração de nosso Pai, através da oração confiante, entregando-te a Ele, para que a sua inefável bondade, que nos criou e dirige, nos de o indispensável vigor de conduzir o nosso sexo em direção do sublime que nos proporcionará a legítima felicidade”.  

 

“Reformador” 12/1961

SEM COMENTÁRIOS

LEI DO MÉRITO 

Se presumes que Deus cria seres privilegiados para incensar-lhe a grandeza, pensa na justiça, antes da adoração. 

Para isso, basta lembrar as circunstâncias constrangedoras em que desencarnaram quase todos os grandes vultos das ciências, das religiões e das artes, que marcaram as idéias do mundo, nas linhas da emoção e da inteligência. 

Dante, exilado. 

Leonardo da Vinci, semiparalítico. 

Colombo, em desvalimento. 

Fernão de Magalhães, trucidado. 

Galileu, escarnecido. 

Behring, faminto. 

Lutero, perseguido. 

Calvino, endividado. 

Vicente de Paulo, paupérrimo. 

Spinoza, inteligente. 

Milton, privado da visão. 

Lavoisier, guilhotinado. 

Beethoven, surdo. 

Mozart, em penúria extrema. 

Braille, tuberculoso. 

Lincoln, assassinado. 

Joule, inválido. 

Curie, esmagado sob as rodas de um carro. 

Lilienthal, num desastre de aviação. 

Pavlov, cego. 

Gandhi, varado a tiros. 

 Gabriela Mistral, cancerosa. 

E os gênios da altura de Hugo e Pasteur, Edison e Einstein, partiram da Terra menos dolorosamente, é forçoso reconhecer que passaram, entre os homens, também sofrendo e lutando, junto à bigorna do trabalho constante. 

Cada consciência é filha das próprias obras. 

Cada conquista é serviço de cada um. 

Deus não tem prerrogativas ou exceções. 

 Toda glória tem preço. 

É a lei do mérito de que ninguém escapa. 

EMMANUEL 

Reformador – 12/1961

SOFRIMENTOS

 

A Flama Espírita – 24/03/1962

SEM COMENTÁRIOS

NO RETOQUE DA PALAVRA 

Seja onde for, não afirme: -Detesto esse lugar!

Cada criatura vive na terra dos seus credores. 

Ouvindo a frase infeliz, não grite: -É um desaforo!

Invigilância alheia pede a nossa vigilância maior. 

Atravessando a madureza, não se lamente: -Já estou cansado!

Sintoma de exaustão, vontade enferma. 

Sentindo a mocidade, não assevere: -Preciso gozar a vida!

Romagem terrestre não é excursão turística. 

Á frente do amigo individado não ameace: -Hoje ou nunca!

Agora alguém se compromete, amanhã seremos nós. 

Ao companheiro menos categorizado, não ordene: -Faça isso!

Indelicadeza no trabalho, ditadura ridícula. 

Perante o doente não exclame: -Pobre coitado!

Compaixão desatenta, crueldade indireta. 

Ao vizinho faltoso nunca diga: Dispenso-lhe a amizade!

Todos somos interdependentes. 

Sob o clima da provação, não se queixe: -Não suporto mais!

O fardo do espírito gravita na órbita de suas forças. 

No cumprimento do dever não clame: -Estou sozinho!

Ninguém vive desamparado. 

Colhido pelo desapontamento, não reclame: –  Que azar!

A Lei Divina não chancela improvisos.  

Á face do ideal não se lastime: -Ninguém me ajuda!

No espiritismo temos responsabilidade pessoal com o Cristo.  

ANDRÉ LUIZ

Reformador – 1959

CULTIVE A PRUDÊNCIA 

“Que cada um, portanto, empregue todos os esforços a combatê-lo (o egoísmo) em si, certo de que esse monstro devorador de todas as inteligências, esse filho do orgulho é o causador de todas as misérias do mundo terreno.” Cap.XI:11. 

Não diga: “Desta água não beberei!”

O amanhã é incerto. 

Não afirme: “Tudo fiz e nada consegui!”

Tente novamente; há sempre um recurso que não foi usado. 

Não informe: “Não posso mais, desistirei!”

Você ignora os próprios recursos; sempre há possibilidades latentes, aguardando movimentação. 

Não ateste: “Eu vi; exijo severa punição para o infrator!”

Você pode ter visto, mas o fato não aconteceu como você viu; há antecedentes que você ignora e fatores que você não pode penetrar. 

Não imponha: “Eu quero!”

Nem tudo quanto você quer pode ser como você quer e, mesmo que seja possível, nem sempre deve ser como você deseja. 

Não fale: “Ingrato! Abandonou-me.”

Ninguém está esquecido do amor de nosso Pai; sua aparente solidão é ensejo evolutivo para a sua alma. 

Dilate seu amor entre todos, cultivando a paciência.

Recorde-se do Senhor Jesus: 

Era rei, fez-se vassalo.

Magistrado celeste, deixou-se julgar injustamente. 

Mestre excelente, consultou várias vezes os escritos antigos.

Médico divino, utilizou-se de saliva e barro para limpar a treva dos olhos do cego de Jericó. 

Amigo fiel, foi abandonado pelos companheiros.

E, morrendo por amor a todas as criaturas, ainda as chama e as espera, oferecendo-lhes o Espiritismo que o desvela e atualiza, como atestado incorruptível de sua infinita bondade, ensejando libertação e felicidade.

 

Não diga, pois: “Não posso mais!”

Jesus é o caminho… E seguindo, valorosamente, você atingirá, ao fim de todas as lutas, o porto feliz de gloriosa distinção. 

MARCO PRISCO

04/1962

Livro: Glossário Espírita-Cristão.

Editora: LEAL

SEM COMENTÁRIOS

SINAIS DE ALARME

Há dez sinais vermelhos no caminho da experiência, indicando queda provável na obsessão:

– quando acreditamos que a nossa dor é maior;

– quando imaginamos maldades nas atitudes dos companheiros;

– quando comentamos o lado menos feliz dessa ou daquela pessoa;

– quando reclamamos apreço e reconhecimento;

– quando supomos que o nosso trabalho está sendo excessivo;

– quando passamos o dia a exigir esforço alheio, sem prestar o mais leve serviço;

– quando pretendemos fugir de nós mesmos, por meio do álcool ou do entorpecente;

– quando julgamos que o dever é apenas dos outros.Toda vez que um desses sinais venha a surgir no trânsito de nossas idéias, a lei divina está presente, recomendando-nos a prudência de amparar-nos no socorro da prece ou da luz do discernimento.

SCHEILLA 

“Reformador” 04/1961

SINAIS DE PERIGO

 

 

A Flama Espírita

26/05/1962

SEM COMENTÁRIOS

TRABALHA SERVINDO

A cada momento, o Criador concede a todas as criaturas a benção do trabalho, como serviço edificante, para que aprendam a criar o bem que lhes cria luminoso caminho para a glória na Criação.

Não permitas, portanto, que o repouso excessivo te anule a divina oportunidade. 

Assim como o relaxamento é ferrugem na enxada, a benefício do joio que te prejudica a seara, o tempo vazio é flagelo na alma, em favor das energias perniciosas que devastam a vida. 

Não há corrosivo da ociosidade que possa resistir aos antídotos da ação. 

Não acredites, desse modo, no poder absoluto das circunstâncias adversas, a se mostrarem, constantes, nos eventos da marcha. 

Se a injúria te persegue, trabalha servindo, e o sarcasmo far-se-á reconhecimento. 

Se a calúnia te apedreja, trabalha servindo, e a ofensa converter-se-á em louvor. 

Se a mágoa te alanceia, trabalha servindo, e a dor erguer-se-á por utilidade. 

Se o obstáculo te aborrece, trabalha servindo, e o embaraço surgirá por lição. 

No trabalho em que possas fazer o melhor para os outros, encontrarás a quitação do passado, as realizações do presente e os créditos do futuro.  E é ainda por ele que conquistarás o respeito dos que te cercam, a riqueza da experiência, a láurea da cultura, o tesouro da simpatia, a solução para o tédio e o socorro a toda dificuldade. 

Importa anotar, porém, que há trabalho nas faixas superiores e inferiores do mundo. 

Movimento que aprisiona e atividade que liberta, atração para o abismo e impulso para o Céu… 

O egoísmo trabalha para si mesmo. 

A vaidade trabalha para a ilusão. 

A usura trabalha para o azinhavre. 

O vício trabalha para o lodo. 

A indisciplina trabalha para a desordem. 

O pessimismo trabalha para o desânimo. 

A rebeldiatrabalha para a violência. 

A cólera trabalha para a loucura. 

A crueldade trabalha para a queda. 

O crime trabalha para a morte. 

Todas essasmonstruosidades do campo moral representam fruto amargo e venenoso de audiências da alma com a inteligência das trevas, no palácio deserto das horas perdidas. 

Todavia, o trabalho dos que trabalham servindo chama-se humildade e benevolência, esperança e otimismo, perdão e desinteresse, bondade e tolerância, caridade e amor, e, somente através dele, o espírito caminha, na senda de ascensão, em harmonia com as leis de Deus. 

EMMANUEL 

A Flama Espírita – 18/07/1969 –

AMA AJUDANDO

A todo instante, o Celeste Pai favorece os homens com as abençoadas dádivas da oportunidade de amar, como o melhor meio de criar o clima de auxilio entre todos, para a glória de fraternidade legitima na terra.

Não deixes, assim, que a indiferença pelos problemas alheios te cerceie a misericordiosa concessão. 

Na mesma razão que a negligência é enfermidade da alma a beneficio da preguiça que aniquila a atividade espiritual, a indiferença é flagelo cruel a favor da inutilidade perniciosa que destrói a vida. 

Não há veneno de ingratidão que resista aos anseios do perdão. 

Desse modo, não acredites nas vozes que se erguem revoltadas, batidas pela tormenta do desespero, preconizando vindítas e ódios. 

Se a má vontade te sitia, ama ajudando e converterás a frieza dos corações em sementeira de esperança. 

Se a ofensa te perturba, ama ajudando e transformarás o caluniador em amigo na retaguarda. 

Se a cólera te segue, ama ajudando e modificarás o clima de ódio em primavera de alegria. 

Se o desejo de posse te atormenta, ama ajudando e retificarás as inclinações inferiores, libertando-te da angustia. 

Se o remorso caminha contigo, ama ajudando e repara o erro cometido, enquanto é tempo, acendendo luz na consciência. 

Se a maldade te injuria, ama ajudando e a suspeita morrerá sem comprovação. 

Se o ultraje te ofende, ama ajudando e a dor se vestirá de luz no teu coração. 

Oferece as tuas horas ao amor infatigável e embora seja necessário rechaçar as víboras da animalidade nos seus redutos, permanece imperturbável sem desfalecimento e prosseguindo sem receio. Pelo amor desculparás a ignorância e pelo auxílio que movimentares em favor de todos, far-te-ás respeitado pelos que te cercam, porquanto, através do serviço constante aumentarás o patrimônio do saber e a experiência dilatar-te-á a visão, oferecendo soluções para os problemas que atormentam as almas. 

Convém registrar, porém, que o amor está igualmente nas Esferas Superiores do mundo, organizando a vida. Força dinâmica poderosa é movimento que liberta, atração que felicita e vibração que vitaliza. No entanto, nem todos o recebem na mesma intensidade…

O avaro ama o dinheiro aumentando a própria tortura. 

O ególatra ama a si mesmo caminhando em solidão. 

O vândalo ama a anarquia cavando abismo sob os pés. 

O rebelde ama o crime vitalizando a desdita em volta de si. 

O dissoluto ama os prazeres aumentando o rio da lama no qual se afoga lentamente. 

O colérico ama a desforra que lhe avinagra a existência. 

O viciado ama o gozo desequilibrante bebendo a cicuta que o vitimará. 

O medroso ama a treva onde se esconde aguardando a loucura. 

Todos esses desventurados das aflições da alma refletem a sintonia com as inteligências vingadoras do Além-Túmulo, perdidos na concha sinistra do personalismo destruidor.  

Apesar disso, o amor daqueles que te ajudam amando pode ser denominado de compaixão e misericórdia, esquecimento do mal e perdão, piedade e socorro, fazendo-se senda luminosa de Caridade e caminho do Senhor que venceu o mundo servindo e continua amoroso aguardando por nós. 

JOANA DE ANGELIS 

(Página recebida pelo médium Divaldo P. Franco, no dia 5-3-60, em Salvador, Bahia.)

 

 

As duas mensagens são bem semelhantes, com frases e parágrafos quase sempre dentro dentro das mesmas idéias e imagens. Emmanuel enfoca a benção do trabalho; Joanna de Angelis enfoca a benção de amar. Com isso, mudam os termos correlatos. Óbvio que não é absolutamente mera cópia, como está capciosamente afirmado no opúsculo; apenas a estrutura das duas mensagens é a mesma. Desde que o tema trabalho foi substituído pelo tema amar, as exortações se repetem ajustadas à substituição feita. Seguem-se as imagens literárias. Joanna de Angelis se estende por alguns pontos diferentes e, ao final, os vícios relacionados por Emmanuel em dez substantivos são por ela apresentados em oito adjetivos substantivados, mas nem sempre sendo os mesmos nas mensagens comparadas, senão apenas três deles: egoísmo e ególatra, vício e viciado, cólera e colérico. 

Então, que aconteceu? 

Abandonada – por absurda – a chance de má-fé (tolerem-me a insistência nessa premissa), atentemos para a explicação que concerne com a reconhecida honestidade do médium. As duas mensagens podem ter tido origem em plano mais alto, acima daquele em que se acham os dois maravilhosos mentores Emmanuel e Joanna de Angelis. Foi-lhes passada para retransmissão e os dois cumpriram seu papel com naturalidade, cada qual empregando estilo próprio, mas inevitavelmente mantendo idêntica a forma, o conteúdo, a estrutura. Um professor lê determinado texto para dois discípulos, pede até que façam algumas anotações e, em seguida, cada qual escreva o que ouviram para leitura de terceiros. Se os discípulos são bons de memória e de trato redacional, teremos duas produções parecidas no conteúdo e na forma, com o emprego de palavras iguais ou sinônimas. Plágio? Em hipótese alguma. 

(…) 

Avento porém outra adequada explicação partida da premissa consensual de que Emmanuel e Joanna de Angelis têm missão bastante semelhante. Ora, que razões impediriam que ambos houvessem acertado entre eles o ditado daquela mensagem? Joanna de Angelis pode ter pedido a Emmanuel a autorização para apresentar a mesma idéia copiando e aproximando palavras. Ou vice-versa, independente da data em que foram ditadas. Mais: Emmanuel pode ter simplesmente oferecido: “Eis a mensagem; faça algumas modificações e dite pelo Divaldo.” Também vice-versa. (…) Por que as pequenas alterações? Simplesmente para alcançar dois públicos diferentes, quais o meu público e o seu, leitor, e naquele caso mediúnico, alcançar o público dos leitores de Chico e Divaldo. Se as mensagens fossem cópia exata uma da outra, a reação talvez viesse a suscitar dúvidas, o que, de resto, acabou acontecendo, a despeito de contarem diferenças. E os motivos de tais alterações? Não deu certo a estratégia? Sim, é verdade, mas isso às vezes acontece. Maior exemplo é o Nosso Lar, do André Luiz, que evidentemente teve todo um planejamento especial no lado de lá antes de ser ditado e a reação foi negativa da parte de muitos espíritas. Paciência. O Alto sabe que isso pode ocorrer e sabe mais ainda absorver as reações negativas e… esperar. Do planejamento sempre faz parte a hipótese da reação negativa; mas também a estratégia seguinte de esperar. 

Finalmente, posso apresentar uma última e mais complexa explicação, adequada tanto às mensagens de J. e de Antero (caso não fossem o mesmo espírito, no que não creio), como às de Emmanuel e Joanna de Ângelis. (…) A questão nº 240 de O Livro dos Espíritos com sua resposta e a nota em seguida de Allan Kardec já abriam nossas mentes a nova compreensão, desde 1857: 

A duração, os Espíritos a compreendem como nós? – Não e daí vem que nem sempre nos compreendeis, quando se trata de determinar datas ou épocas. 

AK: Os Espíritos vivem fora do tempo como o compreendemos. A duração, para eles, deixa, por assim dizer, de existir. Os séculos, para nós tão longos, não passam, aos olhos deles, de instantes que se movem na eternidade, do mesmo modo que os relevos do solo se apagam e desaparecem para quem se eleva no espaço. 

(…) Ora, nesse contexto, os eventos não se situam nem decorrem, mas simplesmente existem num continuum hiperdimensional que extrapola ao entendimento da nossa limitada razão. Todos os universos materiais e espirituais se interpenetram e interagem, tais (exemplo aproximado) as ondas que vibram em freqüências diferentes e se perpassam sem exclusão e sem interferência.  (…) Partindo dessas lucubrações desaparece na origem a cronologia dos ditados mediúnicos em discussão. Não se poderá mais falar na recepção de um deles primeiro e de outro depois. Analisadas ontologicamente na sua essencialidade fenomênica, as duas mensagens – ou melhor, as quatro – estariam “fundidas” e seriam a mesma coisa em resultados aparentemente desiguais diante da nossa observação (ou participação antrópica).

CARTA A MEU FILHO 

Meu filho, dito esta carta para que você saiba que estou vivo.  

Quando você me estendeu a taça envenenada que me liquidou a existência, não pensávamos nisso. 

Nem você, nem eu.  

A idéia da morte vagueava longe de mim, porque esperava de suas mãos apenas o remédio anestesiante para a minha enxaqueca.  

Entendi tudo, porém, quando você, transtornado, cerrou subitamente a porta e exclamou com frieza:  

-Morre, velho!  

As convulsões que me tomavam de improviso, traumatizavam-me a cabeça …  

Era como se afiada navalha me cortasse as vísceras num braseiro de dor.  

Pude ainda, no entanto, reunir minhas forças em suprema ansiedade e contemplar você, diante de meus olhos.  

Suas palavras ressoavam-me aos ouvidos: – “morre, velho!”  

Era tudo o que você, alterado e irreconhecível, tinha agora a dizer.  

Entretanto, o amor em minhalma era o mesmo. Tornei à noite recuadaquando o afaguei pela primeira vez.  

Sua mãezinha dormia, extenuada …  

Pequenino e tenro de encontro ao meu peito, senti em você meu próprio coração a vagir nos braços 

E as recordações desfilaram, sucessivas.  

Você, qual passarinho contente a abrigar-se em meu colo, o álbum de fotografias em que sua imagem apresentava desenvolvimento gradativo em todas as posições, as festas de aniversário e os bolos coloridos enfeitados de velas que seus lábios miúdos apagavam sempre numa explosão de alegria… Rememorei nossa velha casa, a princípio humilde e pobre, que o meu suor convertera em larga habitação, rica e farta…  

Agoniado, recordei incidentes, desde muito esquecidos, nos quais me observava expulsando crianças ternas e maltrapilhas do grande jardim de inverno para que nosso lar fosse apenas seu…  

Reencontrei-me, trabalhando, qual suarento animal, para que as facilidades do mundo nos atendessem as ilusões e os caprichos …  

Em todos os quadros a se me reavivarem na lembrança, era você o grande soberano de nosso pequeno mundo…  

O passado continuou a desdobrar-se, dentro de mim.  

Revisei nossa luta para que os livros lhe modificassem a mente, o baldado esforço para que a mocidade se lhe erigisse em alicerce nobre ao futuro…  

De volta às antigas preocupações que me assaltavam, anotei-lhe, de novo, as extravagâncias contínuas, os aperitivos, os bailes, os prazeres, as companhias desaconselháveis, a rebeldia constante e o carro de luxo com que o presenteei num momento infeliz…  

Filho do meu coração, tudo isso revi…  

Dera-lhe todo o dinheiro que conseguira ajuntar, mas você desejava o resto.  

Nas vascas da morte, vi-o, ainda, mãos ansiosas, arrebatando-me o chaveiro para surripiar as últimas jóias de sua mãe…  

Vi perfeitamente quando você empalmou o dinheiro, que se mantinha fora de nossa conta bancária, e, porque não podia odiá-lo, orei – talvez com fervor e sinceridade pela primeira vez – rogando a Deus nos abençoasse e compreendendo, tardiamente, que a verdadeira felicidade de nossos filhos reside, antes de tudo, no trabalho e na educação com que lhes venhamos a honrar a vida.  

Não dito esta carta para acusá-lo.  

Nem de leve me passou pelo pensamento o propósito de anunciar-lhe o nome.  

Você continua sangue de meu sangue, coração de meu coração.  

Muitas vezes, ouvi dizer que há filhos criminosos, mas entendo hoje que, na maioria das circunstâncias, há, junto deles, pais delinqüentes por acreditarem muito mais na força do cofre que na riqueza do espírito, afogando-os, desde cedo, na sombra da preguiça e no vício da ingratidão. 

Não venho falar, assim, unicamente a você, porque seu erro é o meu erro igualmente. Falo também a outros pais, companheiros meus de esperança, para que se precatem contra o demônio do ouro desnecessário, porque todo ouro desnecessário, quando não busca o conselho da caridade, é tentação à loucura.  

Há quem diga que somente as mães sabem amar e, realmente, o regaço materno é uma bênção do paraíso. Entretanto, meu filho, os pais também amam e, por amar imensamente a você, dirijo-lhe a presente mensagem, afirmando-lhe estar em prece para que a nossa falta encontre socorro e tolerância nos tribunais da Divina Justiça, aos quais rogo me concedam, algum dia, a felicidadede tê-lo novamente ao meu lado, por retrato vivo de meu carinho… Então nós dois juntos, de passo acertado no trabalho e no bem, aprenderemos, enfim, como servir ao mundo, servindo a Deus. 

J. 

A Flama Espírita – 02/05/1929

CARTA DO ALÉM 

Meu filho, perdoa-me voltar à tua consciência. Continuo vivo e sei que na tua memória estão impressos, a golpe de remorso implacável, os últimos dias do nosso encontro, e, como tu, também eu não me olvido da nossa despedida. 

Lembro-me bem: a dispnéia ultrajava-me o corpo vencido, quando te pedi a medicação calmante. Teu olhar, porém, meu filho, quando me trazia o copo, disse me tudo. Quis recuar; não pude. A tua ansiedade parecia pedir-me que sorvesse o conteúdo do vasilhame em que tuas mãos nervosas pingaram a dose fatal de arsênico. Essa ansiedade, que não tenho conseguido esquecer, imprimiu na minha alma emoções desordenadas e, no momento em que o veneno escorria pelo meu tubo digestivo e o suor vertia em bagas pelo teu rosto, eu me revi moço, como se a aproximação da morte tivesse vencido o tempo e eu recuasse aos primeiros dias do lar. Via-me a reter-te nos meus braços vigorosos, após a partida da tua mãe para o mundo espiritual, procurando ninar-te o sono leve. Lembrei-me das noites que passei debruçado sobre o teu leito de criança, procurando acarinhar-te, esquecido de mim mesmo. Via-te crescer, enquanto eu desenvolvia uma grande atividade para reunir as moedas que iriam fazer a nossa felicidade no futuro, quando estivesse estuante de mocidade e eu envelhecido. Recordei a educação primorosa que te dava, enquanto as minhas mãos se calejavam no trabalho! Freqüentavas a Faculdade de medicina e, nesse justo momento das lembranças, minha mente turbilhonou-se sob a força incoercível da morte. Ainda pude concluir, antes do delíquio, que o filho que eu ninara com as minhas mãos assassinava-me para se apossar do cofre forte da nossa casa, onde eu guardava as moedas e as cédulas que sempre foram tuas. 

Não morri, meu filho. Não me conseguiste matar. Rompeste somente as roupas velhas e cansadas que me pesavam, que me vergastavam, porque, verdadeiramente, eu morrera muito antes, quando tua mãe partiu e não mais pude ser feliz… Já naquele tempo procurei transfundir a minha vida na tua vida; o amor que a morte me roubara, transferi-o para ti, em forma de confiança e alegria, de esperança e júbilo. 

Porque te precipitaste, meu filho? 

Depois que os tecidos se desfizeram e me descobri vivo, pus-me a examinar a própria situação e lembrei-me da história da serpente que picara o peito que a amamentava. Fizeste o mesmo. Assassinaste-me… 

Acompanhei-te, a princípio, tomado por um ódio que me requeimava mais do que o arsênico no estômago. Ódio que me fazia enlouquecer, enquanto tuas mãos mergulhavam no dinheiro do meu suor, vendendo as propriedades para gastares no lupanar, seduzido por infeliz mulher que, por sua vez, era escrava de outra mulher desencarnada que te odiava e te odeia ainda, e a quem, em vida pregressa, destruíste o lar como agora me destruíste o corpo. 

Oh! Meu filho! Não suporto continuar com esta lembrança, revendo-me nas tuas mãos, impotente para reagir e ouvindo a tua voz nervosa a repetir: “beba meu pai, você vai dormir”. 

Não, meu filho. Não dormi, pois o pesadelo continua… 

Vejo-te agora, sucumbindo lentamente, dominado pela adversária do passado e utilizo-me deste Correio, por falta de outro, para que minha voz chegue aos ouvidos do teu coração.

Desperta, meu filho, antes que seja tarde demais. 

Já te perdoei a mão com que me puniste em nome da Justiça Indefectível… Também eu carregava crimes atrozes de que, num estado de loucura, apressaste o resgate, ignorando que a Lei Divina, oportunamente, se encarregaria de me justiçar. 

Libertei-me, mas te enrodilhaste numa trama e não podemos prever quando o futuro te libertará. 

Desperta, meu filho! Desperte e vive! 

De que vale a cultura numa consciência culposa? Ainda não se passaram duas dezenas de anos, em que a Humanidade presenciou o soçobro das suas mais nobres aquisições, na guerra das civilizações super-alfabetizadas, dirigidas pela ambição que se fez monstro de guerra, transformando homens em abutres, anulando o patrimônio do saber, dizimando cidades, incendiando vilas, assassinado mulheres, crianças e velhinhos indefesos dos povoados humildes, na ânsia sanguinária da anarquia. 

A cultura não representa tudo. Não adianta o saber num caráter ultrajado. Abre os braços à Fé, volta a Jesus, enquanto é tempo. 

Eu sei que minha voz chegará aos teus ouvidos. 

Pelo amor de Deus, arrepende-te. Mas não te arrependas na aparência, e, sim rompendo esse silencio que te levará à loucura, recuperando o tempo perdido e empregando os últimos dias da vida na retificação da tua invigilância. 

Filho do meu coração, revejo-te nas minhas mãos, ainda pequenino, quando eu chorava a tua mãe ausente e, diante das minhas lagrimas a caírem no teu rosto de anjo, indagava, infantil: “estás chorando, papai?”. Sim meu filho, continuo chorando. Estou chorando por ti. Volta, pois. Volta, volta ao bem que eu quase não te soube ensinar. Volta a Jesus, e começa tudo de novo, outra vez, para a nossa felicidade. 

O teu 

ANTERO 

(Página recebida psicofônicamente pelo médium Divaldo P. Franco, na sessão da noite de 19-6-1961, em Salvador, Bahia.) 

Reformador – 05/1962

São iguais? Sim, isso é a mais pura evidência. Só um leitor que sofra de total desatenção não constatará que a história é a mesma, dentro de igual seqüenciamento e de igual estrutura narrativa. Porém não vai além disso. Quase nunca as palavras são as mesmas e Antero se explica mais, desenvolve mais, detalha mais. Acrescenta até o tipo de veneno com que o filho ingrato assassina o pai: arsênico. Substitui “remédio anestesiante” para a enxaqueca por “medicação calmante” para a dispnéia. (Na verdade, o pai poderia estar sentindo as duas coisas.) E por fim verifica-se que às vezes são outras as situações narradas.

 

Levanto uma questão preliminar: quem é J., quem é Antero? Pelo texto, espíritos bondosos e evangelicamente conformados diante do filho parricida. E que mais? Ninguém sabe. Porém, quanto ao Chico e ao Divaldo? Nesse caso sabemos de tudo. Conhecemos de ambos, sobejamente, a renúncia, a dedicação, a bondade, o desprendimento, o conhecimento doutrinário, o despojamento, o amor familiar, a fé, enfim, a condição de espíritas missionários, ainda que não fossem infalíveis e que pudessem errar como qualquer outra criatura. Infalível só Jesus. Mas o testemunho que deram desde o início de suas vidas foi sempre digno da nossa confiança e da nossa gratidão. Portanto, temos de avaliar o que aconteceu do lado do plano espiritual, porque do lado daqui dos encarnados os dois médiuns jamais justificariam qualquer atitude indigna que pudesse levar ao descrédito a mediunidade, em geral e deles próprios. 

Pois bem; eu disse que as histórias são iguais, mas nem me passa pela cabeça a hipótese de plágio. Antes de tudo porque penso, sinceramente, que essa história não aconteceu de verdade, seguindo aliás um velho e surrado leitmotiv do filho ambicioso que assassina o pai para roubar-lhe os haveres. Entendo que é uma parábola para efeito apenas de ensinamento, como as que saíram da boca de Jesus. No caso, seria uma história estereotipada, sem nenhuma criatividade, pobre de estilo e, nesse mesmo raciocínio, mera tradição do mundo espiritual, como a que declara Humberto de Campos haver lido ou ouvido ao ditar Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, segundo esclarecimento de Emmanuel , no Prefácio: “Os dados que ele fornece nestas páginas foram recolhidos nas tradições do mundo espiritual.” Tudo bem, concedo que mesmo como parábola ou como tradição do mudo espiritual o texto seria transmitido a cada médium com redação própria de cada espírito e, portanto, mais diferenciado. Modus in rebus. Sempre que contarmos para nossos filhos e netos a história de Chapeuzinho Vermelho ou dos Três Porquinhos, repetidas de geração para geração, vamos inevitavelmente usar quase as mesmas palavras do nosso vizinho que mora do lado ou de alguém que viva no extremo oposto do país. Admitamos, no entanto, que isso não fosse assim tão natural (não?) e que, sendo a narrativa a mesma, estaremos sem dúvida diante de um plágio. Mas… plágio de quem? O espírito, embora agindo de boa-fé, é nosso ilustre desconhecido; o médium todos nós conhecemos e desde antes do acontecido já lhe havíamos lido as mensagens psicografadas e sabíamos da sua capacidade mediúnica e do seu caráter limpo. Concluindo, afirmo sem vacilação: se fosse plágio, não seria do médium, seria do espírito. E teria plagiado evidentemente na melhor das intenções.  

(…) 

Não tenho a mais mínima dúvida (…) de que os autores J. e Antero são o mesmo espírito. E pode ser que nem o Chico, (…) nem o Divaldo soubessem disso. Só por tal os textos são iguais.  

(…) 

Portanto, se verdadeira a história (pode ser ficção em qualquer circunstância), o pai envenenado foi o espírito J. Antero, que pode ser nome verdadeiro ou inventado, mas sempre uma única individualidade.

Bem, a meu ver as explicações de Luciano dos Anjos não são convincentes, indo contra a própria explicação do Divaldo de poder se tratar de um fenômeno do inconsciente, e ferindo o princípio da lâmina de Ockham, em que devemos escolher entre diversas hipóteses aquela que possuir o menor número de elementos. A hipótese de traição do inconsciente parece-me se adequar suficientemente ao caso, sem a necessidade de recorremos a fraude (embora essa última não possa ser descartada) ou a hipóteses mais mirabolantes como o mesmo espírito usando dois nomes ou problemas nas dimensões espaço-temporais.

É uma pena que Luciano não tenha reproduzido as demais mensagens, e nem a carta acusatória de Chico contra Divaldo, afirmando “não reproduzo o texto aqui neste livro porque não posso repetir a escandalosa divulgação que estou condenando” (pág. 87). Isso só prejudica o movimento espírita, sugerindo que pelo menos alguns de seus adeptos estão mais preocupados em varrer a sujeira para debaixo do tapete do que colocar tudo em pratos limpos.

Bibliografia 

Anjos, Luciano Dos. A anti-história das mensagens co-piadas. Leymarie Editora (2006), Rio de Janeiro.

Grupo Espírita Emmanuel. Estudo de Mensagens Copiadas (Junho de1962) São Paulo.

http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL692876-15605,00.html (acessado dia 20/09/2008)

8 respostas a “As Alegadas Mensagens Copiadas de Chico Xavier por Divaldo Pereira Franco”

  1. Jesa Nideck Diz:

    Tolice achar que um professor só pode dar aula para um único aluno,e que outros professores não podem dar aulas parecidas.Chico no momento de fraqueza, reclamou, pos em dúvida a autenticidade das comunicações recebidas por Divaldo, Temos que aprender a separar Chico Homem com todos os defeitos que lhe cabem do Chico Xavier Médium ( Que é apenas uma conexão, uma extenção que o espírito usa )

  2. Carlos Magno Diz:

    Taí, Jesa, você tem toda a razão. Excelente observação.

    Todos os ferozes críticos do Chico pretendem vê-lo, principalmente, como um médium falível, enganado e enganador, o que ele evidentemente não foi. Muito pelo contrário, foi brilhante e em muitos momentos até genial.

    Se alguém deseja achar defeitos vai achá-los em qualquer coisa, mesmo em obras-primas irretocáveis da pintura, escultura, música ou literatura. Como diziam (e dizem) os franceses: “la critique est facile, l’art est difficile”

    Realmente, nessa questão entre o Divaldo e o Chico há que separar o homem do médium. E nem sei também qual era a idade do Chico na ocasião. Podia até estar com idade avançada, o que seria um fator importante a considerar.

    Infelizmente nesse episódio continuarão a bater, esquecendo-se de que o Xavier era médium e pessoa física, cidadão brasileiro e humano, e não médium 24 horas por dia.

  3. Rainara Diz:

    Acho que tem muitas coisas a serem esclarecidas, desde o conhecimento da mente humana até o conhecimento da mente do espíritos. Muitas vezes uma comunicação errada remete interpretações erradas. O médium pode ser enganado pelo espírito, mas ele simplismente repassa o que lhe foi psicografado, daí muitos seram os leitores que culminam em interpretações variadas. Existem, milhões de pessoas e desencarnados, fato que pode gerar situações de vidas iguais com pessoas diferentes. Acho q a mediunidade ainda é pouco estudada, muitas coisas n se explicam. Assim como na vida terrena nos enganamos com as pessoas, isso também pode acontecer no plano espiritual. Acredito de verdade nas pessoas que fazem o bem, que venha Divaldo ou quem for o importante mesmo é a prática da caridade e do amor, pq no mundo de hoje o que falta mesmo é isso.

    O amor foi a pedra q faltou no alicerce da nação…
    O amor foi a pedra q faltou nessa nossa construção…( Isso não é plagio, é só um trecho de Edson Gomes)

  4. Roberto Diz:

    Que insanidade. Dar palco para este assunto tolo e vazio, principalmente por pessoas que têm contato com o espiritismo. Que falta do que fazer.

    Quantas milhares de mensagens transmitiram Chico Xavier e Divaldo Franco, juntos? Aí arrumar algumas para criar polêmica, inventar brigas? Que pigmeus morais estes que fomentam este diz-que-disse.

    Cadê a tal da carta sobre esta tal de queixa de Chico Xavier? Mas que gente louca. Nada a ver! Falta do que fazer mesmo.

    O Vitor Moura pseudo-espírita. Vai na linha do tal dos Anjos aí? Leia (se conseguir) uns 10 parágrafos no site deste ilustre para embasar melhor qual é o propósito dele: se projetar, fama, assim como você Vitor.

    Que falta de bom senso publicar isto.

  5. Hindenburg Köhler Diz:

    Que bobagem… se cada um dos que se ocupam desse infeliz acontecimento conseguissem realizar 1% do que esses apóstolos fizeram e fazem…viveríamos em um mundo de regeneração…

  6. Marcelo Pereira Diz:

    O que esses “apóstolos” fizeram de tão grandioso que não mudou nada no mundo cada vez mais perverso e mais ignorante? Para mim são ambos espíritos em aprendizado que mais erraram que acertaram e vão pagar pelos seus erros.

    A regeneração não vai acontecer tão cedo pois exige um nível intelectual que nenhuma religião, sequer o “Espiritismo” chiquista/divaldista, na verdade um Catolicismo híbrido, consegue ter. Aposto que levaremos uns 3000 anos para chegarmos ao início da regeneração, não antes disso.

  7. Marcelo Pereira Diz:

    Se esses dois estivessem certos, o mundo estaria muuuito diferente, com quase todo mundo intelectualizado e se interessando por coisas intelectualizadas. Como Xavier e Franco estão errados, vemos essa balbúrdia em que se transformou a humanidade, crédula e egoísta.

  8. Caddo Diz:

    Quem é médium… é médium 24 horas por dia.

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